segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Virtual indivíduo na época do desamor


...te enviou uma mensagem

a barrinha azul piscante no canto direito indica mais uma chamada na madrugada; manhã; a vontade de ignorar

a falta de coragem pra isso

o oi seco de coração palpitante

a ansiedade de falar; a vontade crescente de mandar a merda

ponto final

colocar um ponto final na história

mas nunca gostou de pontos finais

ponto e vírgula;

;

ponto e vírgula sempre foi mais sua cara

a indecisão; incerteza; o não saber se é fim ou pausa

momento

ou eterno

uma risada

hauhauhauuahuauha

falsa;

um fato da vida

ok

silêncio

a foto no canto direito, bolinha verde ao lado; o necessitar falar

o não querer dar o braço a torcer;

feridas no ego não curam; aumentam

a cada palavra; dita ou não;

muitas não são; a maioria delas

mas não há ponto final
;

apenas

dia sim, dia não; tudo continua

se arrastando

sem coragem

para nada

masturbar para não chorar;

é o que há para a noite...


*

Uma hora ele tinha que sair de sua cripta.

Abrir as janelas, ver o mundo.

Falar com as pessoas.

Tomar uma cerveja. Acima de tudo, tomar uma cerveja. É uma das vantagens de se estar no meio de um monte de gente, a maior parte delas desconhecidos dos quais você não se importa nem um pouco; pode-se tomar cerveja sem parecer um alcoólatra.

E pessoas tinham aos montes.

E uma pessoa.

Ao longe, na surdina, observa. Bebe. Uma cerveja, duas cervejas, dez cervejas, onze cervejas, cervejas de perder a conta.

E observa.

Dança. Risos. Abraços. Poses para fotos.

Um riso perdido em sua direção. Pega para si. Não é dele. Sabe que não é. Mas o toma de qualquer jeito. Sem permissão; sem consentimento; sem nem mesmo saber que fazia aquilo. Sorria para ninguém o sorriso que gostava de se sentir dono. De longe. Sempre de longe.

A solidão nos torna cada vez mais solitários. Perde-se a habilidade do xaveco, da conquista. Mesmo do mais inocente bate-papo. A falta de contato humano faz desejar ardentemente qualquer tipo de contato; sem sucesso. Não se sabe mais fazer contato. A solidão que gera a necessidade de socializar que mostra a incapacidade de o fazer e o desejo de se isolar.

Um círculo vicioso que termina na garrafa de cerveja, na dose de conhaque, no copo de uísque, em qualquer coisa alcoólica que faça a cabeça começar a girar e induza ao sono tranquilo.

Os olhos que veem. A necessidade latente de ir embora para não mais ver. As pernas que andam sozinhas, a cabeça que de repente se encontra sentada na cama, escondida entre mãos suadas.

O sono que, uma hora, chega.

Ainda embalado no sorriso roubado. Na noite intranquila.

O mesmo erro; a mesma coisa de sempre. Tudo de novo.

Círculo viciado.

*

Em todo lugar, existem aquelas pessoas que choram e esperneiam por não encontrar seu príncipe encantado e sua princesa na torre, e se sentem as mais miseráveis no mundo por isso. Para desespero daqueles que se contentariam com a bruxa, a fera, a irmã má ou mesmo o sapo, e mesmo assim se veem fora da história.

sábado, 6 de outubro de 2012

A poesia morreu!


Tudo o que ouço é blablablá.

Olha, não queria dizer isso, mas como não me deixam opção, não tenho escolha. Que me desculpem Homero e Virgílio; me desculpe Camões de mares nunca dantes navegados. Me perdoe o eterno bardo Shakespeare, tenha ele existido ou não. Me perdoe Dante do sétimo círculo do inferno! Me perdoe também Lord Byron; ainda que ele nunca tenha perdoado ninguém, sempre há a primeira vez. Desculpa por tudo Baudelaire, mas sabe como é né? Me desculpa Rimbaud e Verlaine. Foi mal aí Ginsberg! Peço desculpas de todo o coração ao tio WW. E Frost, você também me perdoe. E você Fernando, seja uma boa pessoa e me perdoe. Me desculpe Bilac, Drummond, Bandeira. Me desculpa Manoel por jogar seu nome no barro. Vininha! Grande poeta das coisas pequenas, me desculpe. E Noel, Cartola, Chico, Gil, Morrison, Dylan, Lennon – todos vocês, e tantos outros, me perdoem!

Peço perdão porque, no que tenho a lhes dizer, não há benção.

Meus amigos, é com quase nenhum pesar que anuncio: a poesia morreu!

Sim, ela está morta, velada e sepultada. Não há mais nada a fazer.

Ela, que sobreviveu à Auschwitz, pereceu ante o todo-poderoso iPod. Ela, que se alimentou de nossas desgraças, perece ante as próprias.

Como sobreviver num mundo em que todos possuem um ego de poeta?

Bons tempos quando apenas poucos privilegiados tinham a coragem de expor seu sofrimento e tocar aqueles ao seu redor. Hoje todos sofrem em público – e ninguém realmente se importa.

Mas se importar por que né?

Como boas novelas mexicanas, os dramas da vida moderna são requentados – a menina que gosta do menino que não gosta dela; o menino que gosta da menina que não gosta dele. Parece ser essa a premissa principal de todos os roteiros – tão originais que se repetem sem nenhuma alteração. Vale a pena ver de novo? Não, mas exibimos do mesmo jeito.

Exibimos, e nos exibimos, e esperamos atenção. Olhem para mim! Olhem como eu sofro! Não consigo conter minhas lágrimas! Ahhhhhhh!!!!!!

Tédio.

Perdido num oceano de sentimentalismo barato, tudo o que sobra é tédio. Não há beleza, não há novidade, não há catarse. Apenas o desespero pós-moderno da dor de corno.

É meus amigos, escutem bem o que estou lhes falando. A poesia morreu!

Tudo o que resta são intermináveis refrões de bolero...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Diário de um bêbado juvenil

* Por Aline Antunes

Eu sei, eu sei. Eu sei que nada que eu tomar vai acabar com isso. 
Parei, parei de tomar aquelas merdas de camomila, já que nada muda, deixo as merdas de melissa e todos os capins do mundo pra beber umas garrafas.
Minha rua é repleta de babacas crentes e caretas que me julgam todas as noites de cigarros e cervejas buscadas no posto. Reveso entre os preços mais baratos, ou umas especiais em noites mais quentes, ou noites mais tristes. 
Minha rua é repleta de bostas que dizem: Lá vai o vagabundo, parece um mendigo.
As piranhas da minha rua fazem alguns comentários que pouco me importam. Algumas ainda acham que eu pagaria alguma merreca por aqueles corpos gastos, há boatos de que me achariam intelectual, apesar de bêbado, barbudo e magricelo, bem magricelo.
Pouco importa os merdas da minha rua, as piranhas do prédio ao lado. Aos jovens doentes que só comem merda e se afundam. Posso ser também um deles, mas não disfarço meu sangue sujo com partidas de futebol. Não aguento mais cinco minutos de corrida, e sinto saudades dos cinco gols que dedique para uma menina envolta de cachecol na arquibancada fria daquele clube pobre.
Andei procurando cabelos brancos que justificassem essa casa suja, as latas de cerveja, as garrafas de tantas outras coisas. Nem dentes e bigodes de fumante eu tenho, sou um velho juvenil fodido, pobre e sem graça.
Não entendo mais as filas nas portas de clubes e repúblicas. Não entendo mais os perfumes no dia dos namorados, nem as caronas na volta da missa. Acredita que os namorados ainda se encontram para ver o o padre e comer um lanche? Eu não como nem as piranhas da minha rua, quem dirá um lanche após a missa.
Um jornal me fez uma infeliz ligação as dez da manhã. Os mandei a merda, larguei a música e a política, os mandei a merda e espero que tenham atendido meu pedido.
Nunca fui o tipo do cara que poupou as palavras, muito menos o cara que improvisou palavrões na frente dos pais, não me venha com meias merdas, eu te enfio o caralho e acabo com qualquer filho de papai que me atravesse.
Eu saio de novo, com frio, bermudas, moletom e chinelo. Acabo com meus cigarros e minhas bebidas, e ainda mato algum filha da puta da minha rua, e digo mais... Não como piranhas. 


* Aline é companheira de artistas, músicos, poetas e tantos outros bêbados inveterados, e estudante de jornalismo nas horas vagas. Sonha em um dia fazer sucesso suficiente para poder bancar suas próprias drogas, e pode ser encontrada no blog Mascando Flor, em http://mascandoflor.blogspot.com.br
Apesar dos comentários maldosos, ela jura que a crônica acima não foi inspirada no dono desse endereço, e nem que usou o "magricelo" apenas para despistar.