Tudo o que ouço é blablablá.
Olha,
não queria dizer isso, mas como não me deixam opção, não tenho
escolha. Que me desculpem Homero e Virgílio; me desculpe Camões de
mares nunca dantes navegados. Me perdoe o eterno bardo Shakespeare,
tenha ele existido ou não. Me perdoe Dante do sétimo círculo do
inferno! Me perdoe também Lord Byron; ainda que ele nunca tenha
perdoado ninguém, sempre há a primeira vez. Desculpa por tudo
Baudelaire, mas sabe como é né? Me desculpa Rimbaud e Verlaine. Foi
mal aí Ginsberg! Peço desculpas de todo o coração ao tio WW. E
Frost, você também me perdoe. E você Fernando, seja uma boa pessoa
e me perdoe. Me desculpe Bilac, Drummond, Bandeira. Me desculpa
Manoel por jogar seu nome no barro. Vininha! Grande poeta das coisas
pequenas, me desculpe. E Noel, Cartola, Chico, Gil, Morrison, Dylan,
Lennon – todos vocês, e tantos outros, me perdoem!
Peço
perdão porque, no que tenho a lhes dizer, não há benção.
Meus
amigos, é com quase nenhum pesar que anuncio: a poesia morreu!
Sim,
ela está morta, velada e sepultada. Não há mais nada a fazer.
Ela,
que sobreviveu à Auschwitz, pereceu ante o todo-poderoso iPod. Ela,
que se alimentou de nossas desgraças, perece ante as próprias.
Como
sobreviver num mundo em que todos possuem um ego de poeta?
Bons
tempos quando apenas poucos privilegiados tinham a coragem de expor
seu sofrimento e tocar aqueles ao seu redor. Hoje todos sofrem em
público – e ninguém realmente se importa.
Mas
se importar por que né?
Como
boas novelas mexicanas, os dramas da vida moderna são requentados –
a menina que gosta do menino que não gosta dela; o menino que gosta
da menina que não gosta dele. Parece ser essa a premissa principal
de todos os roteiros – tão originais que se repetem sem nenhuma
alteração. Vale a pena ver de novo? Não, mas exibimos do mesmo
jeito.
Exibimos,
e nos exibimos, e esperamos atenção. Olhem para mim! Olhem como eu
sofro! Não consigo conter minhas lágrimas! Ahhhhhhh!!!!!!
Tédio.
Perdido
num oceano de sentimentalismo barato, tudo o que sobra é tédio. Não
há beleza, não há novidade, não há catarse. Apenas o desespero
pós-moderno da dor de corno.
É
meus amigos, escutem bem o que estou lhes falando. A poesia morreu!
Tudo
o que resta são intermináveis refrões de bolero...
É nas frestas que ela sobrevive.
ResponderExcluirÉ nos caminhos traçados da intimidade não revelada, daqueles que não expõem seu sofrimento, mas o produto dele.
Não creio que eram poucos a expôr seu sofrimento, pois criar versos era um exercício banal, cotidiano. Creio que a dificuldade de ser publicado é que selecionava os 'melhores' se é que existe isso.
Sofremos o mal do desaparecimento de barreiras. A fácil veiculação dos escritos não lhes dá tempo para pensar e fermentar. Mas há poesia. Tem que haver.