segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Diário de um bêbado juvenil

* Por Aline Antunes

Eu sei, eu sei. Eu sei que nada que eu tomar vai acabar com isso. 
Parei, parei de tomar aquelas merdas de camomila, já que nada muda, deixo as merdas de melissa e todos os capins do mundo pra beber umas garrafas.
Minha rua é repleta de babacas crentes e caretas que me julgam todas as noites de cigarros e cervejas buscadas no posto. Reveso entre os preços mais baratos, ou umas especiais em noites mais quentes, ou noites mais tristes. 
Minha rua é repleta de bostas que dizem: Lá vai o vagabundo, parece um mendigo.
As piranhas da minha rua fazem alguns comentários que pouco me importam. Algumas ainda acham que eu pagaria alguma merreca por aqueles corpos gastos, há boatos de que me achariam intelectual, apesar de bêbado, barbudo e magricelo, bem magricelo.
Pouco importa os merdas da minha rua, as piranhas do prédio ao lado. Aos jovens doentes que só comem merda e se afundam. Posso ser também um deles, mas não disfarço meu sangue sujo com partidas de futebol. Não aguento mais cinco minutos de corrida, e sinto saudades dos cinco gols que dedique para uma menina envolta de cachecol na arquibancada fria daquele clube pobre.
Andei procurando cabelos brancos que justificassem essa casa suja, as latas de cerveja, as garrafas de tantas outras coisas. Nem dentes e bigodes de fumante eu tenho, sou um velho juvenil fodido, pobre e sem graça.
Não entendo mais as filas nas portas de clubes e repúblicas. Não entendo mais os perfumes no dia dos namorados, nem as caronas na volta da missa. Acredita que os namorados ainda se encontram para ver o o padre e comer um lanche? Eu não como nem as piranhas da minha rua, quem dirá um lanche após a missa.
Um jornal me fez uma infeliz ligação as dez da manhã. Os mandei a merda, larguei a música e a política, os mandei a merda e espero que tenham atendido meu pedido.
Nunca fui o tipo do cara que poupou as palavras, muito menos o cara que improvisou palavrões na frente dos pais, não me venha com meias merdas, eu te enfio o caralho e acabo com qualquer filho de papai que me atravesse.
Eu saio de novo, com frio, bermudas, moletom e chinelo. Acabo com meus cigarros e minhas bebidas, e ainda mato algum filha da puta da minha rua, e digo mais... Não como piranhas. 


* Aline é companheira de artistas, músicos, poetas e tantos outros bêbados inveterados, e estudante de jornalismo nas horas vagas. Sonha em um dia fazer sucesso suficiente para poder bancar suas próprias drogas, e pode ser encontrada no blog Mascando Flor, em http://mascandoflor.blogspot.com.br
Apesar dos comentários maldosos, ela jura que a crônica acima não foi inspirada no dono desse endereço, e nem que usou o "magricelo" apenas para despistar.

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