quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O pó da estrada

Home I'll never be, home I'll never be...

Sobem as letras brancas num fundo preto. Créditos. Fim do filme.

Uma história sobre isso, POR FAVOR!

Um sorriso amarelo, sem graça. Um aceno positivo de cabeça. OK. Falar o que né?

Reunião em frente à sala. Todos se aglomeram em volta pra pegar detalhes, comentários. Pérolas de sabedoria. Aos porcos? Do porco. “Sério que os personagens são pessoas reais?”; “Sério que um daqueles drogados virou reitor de universidade?”; “Sério que aquela bicha é um dos maiores poetas da história dos EUA?”; “Nossa, como você sabe tudo isso?”

Vou a pé, até mais.

Uma bela caminhada. Quase quatro quilômetros. Tempo o suficiente pra retomar o controle. Espero.

O filme trazia lembranças. Lembranças de um tempo...que eu ainda me interessava. Lembranças de uma época em que era muito simples sair bêbado a 120km/h pelas avenidas da cidade, costurando o trânsito , fechando ônibus e entrar derrapando nas esquinas, o som no talo quase estourando os tímpanos dos ocupantes com as notas de algum clássico do Iron Maiden; tempo de sentar nas calçadas às 3 da madrugada, abrir uma garrafa de uísque barato e ficar até o nascer do sol discutindo poesia. Tempo de baseados, carreiras e o vômito feliz da ressaca no dia seguinte.

Duras lembranças.

Olho para minha mão: caminhava com dois dedos, indicador e médio, em riste, como que segurando um cigarro.

Um cigarro agora ia bem.

Mas essa não era mais a vida. Sem maços de cigarro no bolso. Sem garrafas de bebida na mochila. Sem papelotes no tênis. Era uma nova vida, banal e patética, de geladeiras cheias de água e frango, e uma eventual pizza com Coca-Cola nos sábados. Tudo muito clichê.

E não mais o clichê beatnik.

Lembro também da sala durante o filme: as conversinhas paralelas, os comentários moralizantes, as risadas fora de hora.

LEVEM SUA MORAL PARA FORA DAQUI!

O grito que se perde em pensamentos antes que possa dominar a garganta.

Lembro de como estou tenso a cada cena, enquanto todos fazem piadas. De como ainda estou tenso; de como não tenho um cigarro.

E percebo de como essas pessoas nunca vão entender a tristeza daquela história; afinal, nenhuma delas é aquele raro indivíduo que já nasceu perdido. Elas nunca saberão o que é não se sentir em casa, em lugar nenhum. O que é ver toda sua certeza à vida se desmanchar defronte aos olhos. O que é não conseguir encontrar a felicidade, a salvação, um motivo de existência, nem mesmo nas drogas.

Nunca saberão de como, apesar de todo o sexo, risos e loucuras, aquelas pessoas são miseráveis. Aquela história, a mais triste tragédia de nossos tempos.

E as invejo por isso.

Mas, mesmo assim, ainda queria um cigarro.

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