Home I'll never be,
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Sobem
as letras brancas num fundo preto. Créditos. Fim do filme.
“Uma
história
sobre
isso,
POR
FAVOR!”
Um
sorriso amarelo, sem graça. Um aceno positivo de cabeça. OK. Falar
o que né?
Reunião
em frente à sala. Todos se aglomeram em volta pra pegar detalhes,
comentários. Pérolas de sabedoria. Aos porcos? Do porco. “Sério
que os personagens são pessoas reais?”; “Sério que um daqueles
drogados virou reitor de universidade?”; “Sério que aquela bicha
é um dos maiores poetas da história dos EUA?”; “Nossa, como
você sabe tudo isso?”
“Vou
a
pé,
até
mais.”
Uma
bela caminhada. Quase quatro quilômetros. Tempo o suficiente pra
retomar o controle. Espero.
O
filme
trazia
lembranças.
Lembranças
de
um
tempo...que
eu
ainda
me
interessava.
Lembranças
de
uma
época
em
que
era
muito
simples
sair
bêbado
a
120km/h
pelas
avenidas
da
cidade,
costurando
o
trânsito
,
fechando
ônibus
e
entrar
derrapando
nas
esquinas,
o
som
no
talo
quase
estourando
os
tímpanos
dos
ocupantes
com
as
notas
de
algum
clássico
do
Iron Maiden;
tempo
de
sentar
nas
calçadas
às
3
da
madrugada,
abrir
uma
garrafa
de
uísque
barato
e
ficar
até
o
nascer
do
sol
discutindo
poesia.
Tempo
de
baseados,
carreiras
e
o
vômito
feliz
da
ressaca
no
dia
seguinte.
Duras
lembranças.
Olho
para minha mão: caminhava com dois dedos, indicador e médio, em
riste, como que segurando um cigarro.
Um
cigarro agora ia bem.
Mas
essa não era mais a vida. Sem maços de cigarro no bolso. Sem
garrafas de bebida na mochila. Sem papelotes no tênis. Era uma nova
vida, banal e patética, de geladeiras cheias de água e frango, e
uma eventual pizza com Coca-Cola nos sábados. Tudo muito clichê.
E
não mais o clichê beatnik.
Lembro
também da sala durante o filme: as conversinhas paralelas, os
comentários moralizantes, as risadas fora de hora.
LEVEM
SUA MORAL PARA FORA DAQUI!
O
grito que se perde em pensamentos antes que possa dominar a garganta.
Lembro
de como estou tenso a cada cena, enquanto todos fazem piadas. De como
ainda estou tenso; de como não tenho um cigarro.
E
percebo de como essas pessoas nunca vão entender a tristeza daquela
história; afinal, nenhuma delas é aquele raro indivíduo que já
nasceu perdido. Elas nunca saberão o que é não se sentir em casa,
em lugar nenhum. O que é ver toda sua certeza à vida se desmanchar
defronte aos olhos. O que é não conseguir encontrar a felicidade, a
salvação, um motivo de existência, nem mesmo nas drogas.
Nunca
saberão de como, apesar de todo o sexo, risos e loucuras, aquelas
pessoas são miseráveis. Aquela história, a mais triste tragédia
de nossos tempos.
E
as invejo por isso.
Mas,
mesmo assim, ainda queria um cigarro.
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